O debate sobre a cobrança de bagagem de mão voltou ao Congresso com a promessa de votação em regime de urgência. A proposta soa popular e atrativa para passageiros, mas precisa ser analisada com olhar técnico. O setor aéreo é complexo, com margens estreitas, custos variáveis e operações altamente integradas que garantem a conectividade nacional. Medidas que parecem “protetivas” podem, na prática, gerar o efeito contrário, prejudicando a eficiência e a competitividade do mercado.
O desafio do conhecimento técnico na política
Grande parte dos deputados envolvidos no debate sobre bagagem de mão não possui experiência direta com a operação de companhias aéreas. Isso faz com que decisões sejam tomadas sem pleno entendimento das consequências logísticas e econômicas. A integração nacional, que garante rotas eficientes entre cidades grandes e pequenas, depende de decisões baseadas em dados e conhecimento operacional, não apenas em medidas populares ou de curto prazo.
Populismo versus eficiência operacional
Projetos que impõem gratuidades ou regulam preços, mesmo com intenção declarada de beneficiar o consumidor, muitas vezes acabam travando o setor. O resultado é menos concorrência, tarifas mais altas e diminuição da qualidade e diversidade de voos. Intervenções desse tipo refletem medidas populistas, com interesses claros, que prejudicam o negócio da aviação em vez de fortalecer a conectividade nacional.
O modelo internacional como referência
No exterior, empresas como Ryanair oferecem tarifas baixas e permitem que passageiros escolham pagar separadamente por serviços extras, como bagagem despachada ou embarque prioritário. Essa liberdade tarifária promove inovação, diversidade de produtos e preços mais baixos. No Brasil, ao restringir a escolha do passageiro e controlar a precificação, o Estado limita essa liberdade, elevando custos e reduzindo a eficiência do sistema aéreo.
Previsibilidade regulatória: o verdadeiro motor do setor
Mais do que proibições ou gratuidades obrigatórias, o setor aéreo brasileiro precisa de estabilidade regulatória e políticas consistentes. Sem isso, o efeito de medidas populistas é claro: penalizam passageiros e empresas, afetam a logística nacional e criam incerteza para investidores. A concorrência saudável, o crescimento sustentável e a redução real de tarifas dependem de um ambiente regulatório moderno e previsível.
Conclusão: por uma política séria para a aviação brasileira
O debate sobre bagagem de mão é legítimo, mas deve ser conduzido com visão de longo prazo e conhecimento técnico. Populismo e interesses políticos de curto prazo prejudicam o setor, elevam custos e reduzem a conectividade. Para que a aviação brasileira seja eficiente, acessível e competitiva, é fundamental que deputados e reguladores busquem políticas sérias, baseadas em dados, experiência operacional e melhores práticas internacionais, em vez de medidas simplistas e eleitoreiras.