Cenário em análise
Durante sua recente apresentação de resultados, a Azul indicou que poderia reduzir promoções agressivas de pontos e aumentar o valor de referência dos seus pontos, também chamado “milheiro” por alguns, no programa Azul Fidelidade. Embora nada esteja confirmado, o documento sugere um possível ajuste de até 10% no valor do milheiro até o final de 2026, em função da recuperação judicial em curso.
O valor atual do milheiro gira em torno de R$ 70, mas ajustes podem ser feitos gradualmente.
Comparativos no mercado
Esse tipo de reposicionamento já foi observado em outros programas de fidelidade. Poucos anos atrás, a Latam adotou uma estratégia semelhante, reduzindo a agressividade das ofertas de bônus e mantendo o desconto para compra abaixo de 70%.
Mais recentemente, a Smiles elevou o preço dos blocos de 1.000 milhas de R$ 70 para R$ 80. Como consequência, as promoções de bônus e cupons de desconto também se tornaram menos generosas, pois agora são calculadas sobre um valor maior – o que ainda assim seguem uma ótima oportunidade.
Portanto, além das pressões financeiras que levaram a Azul ao Chapter 11, a companhia poderia estar seguindo o mesmo caminho das concorrentes, ajustando seu programa de fidelidade para gerar maior receita com a venda de pontos.
Esses exemplos demonstram que menos promoções podem significar mais valor real por milha e melhorando as emissões (na teoria).
Por que promoções exageradas podem ser prejudiciais
Promoções excessivas de compra de milhas e pontos com bônus generosos, podem prejudicar o passageiro no longo prazo. Quanto maior a circulação da “moeda” (milhas), maior a tendência de aumento do custo das emissões.
Isso acontece pelo princípio básico da economia: excesso de oferta gera desvalorização do produto. Quanto mais pontos circulando com bônus generosos, mais caras tendem a se tornar as passagens resgatadas.
Minha opinião
Não é novidade que defendo a ideia de que promoções excessivas de pontos com bônus elevados podem, na prática, prejudicar o consumidor final, especialmente aqueles que realmente desejam viajar. Quando muitas milhas são injetadas no mercado de forma contínua, o efeito natural é a desvalorização das emissões, tornando as passagens mais caras ou menos vantajosas no longo prazo.
Vemos exemplos claros dessa dinâmica em programas concorrentes:
- Latam Pass: após a saída da recuperação judicial, a empresa reduziu significativamente as promoções de compra de milhas. O resultado foi um aumento no valor real do milheiro e uma redução efetiva do custo das emissões, beneficiando os passageiros que planejam suas viagens com antecedência.
- TAP Miles&Go: adotou medidas semelhantes, limitando promoções via Livelo e mantendo bônus apenas para clientes com o Amex Centurion. Isso tornou os resgates mais previsíveis, acessíveis e simplificados para quem realmente deseja utilizar seus pontos de forma estratégica e para viajar.
Diante desse contexto, o possível reposicionamento da Azul me parece uma medida positiva e alinhada a práticas internacionais. No médio e longo prazo, ajustes como este podem trazer mais equilíbrio, previsibilidade e valorização real das milhas – que na Azul se chamam “pontos”, beneficiando tanto usuários frequentes quanto o programa como um todo. Se isso se confirmar, os resgates tendem a oferecer mais valor e previsibilidade, agradando tanto entusiastas quanto críticos do programa, que tem evoluído muito ao longo dos anos.
O que fazer agora?
Para aqueles que desejam acumular pontos por meio de transferências ou compras diretas, este pode ser um momento estratégico para antecipar aquisições enquanto as promoções ainda estão vigentes. Com a perspectiva de redução de bônus e possível aumento no valor do milheiro, a prática de acumular pontos aos poucos pode se tornar menos vantajosa ao longo do tempo.
Portanto, se você planeja utilizar seus pontos Azul ou pretende combinar ofertas de transferência bonificada com a opção “pontos + dinheiro”, talvez seja prudente garantir suas milhas agora, aproveitando preços mais acessíveis. A tendência é de que, futuramente, o custo para adquirir ou resgatar pontos aumente, tornando essas operações mais onerosas, apesar de eu não acreditar num aumento significativo.
Conclusão
A Azul demonstra um movimento estratégico que busca equilibrar seu programa de fidelidade. A redução de promoções e o ajuste no valor do milheiro, que são chamados de “pontos” no programa da companhia, podem trazer mais estabilidade, valorização real e previsibilidade para os passageiros. Embora, à primeira vista, essa medida possa parecer restritiva, no médio e longo prazo tende a beneficiar quem utiliza o programa de forma planejada e consistente e principalmente: para viajar.